15/07/2025, 0:00 h
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LITERACIA FINANCEIRA
Por Raquel Silva (Economista)
Ainda assim, é muito importante abordá-los, principalmente quando (como no caso do tema de hoje) impactam tanto a nossa vida e são temas que ouvimos quase diariamente nas notícias. Hoje, vamos falar sobre um deles: a inflação.
Há cerca de 1 mês, foi notícia uma declaração muito importante de Maria Luís Albuquerque, comissária europeia e ex-Ministra das Finanças de Portugal. “Pensamos que os depósitos bancários são seguros, mas seguro é que perdemos dinheiro com eles”, disse ela. O motivo? Maria Luís Albuquerque explicou que “a rentabilidade real” dos depósitos a prazo “é negativa”, por, em geral, pagarem juros inferiores à erosão causada pela inflação. “No mercado de capitais temos risco de perda. Nos depósitos temos uma certeza de perda nos últimos anos”.
Mas afinal, o que é a inflação?
Lembra-se quando, há uns 25 anos, com 100 escudos comprávamos um pacote de batatas fritas de marca e agora com o seu equivalente em euros (50 cêntimos) compraríamos talvez ¼ do mesmo pacote? Porquê? A resposta é: inflação. A inflação é como um rato. Quando nos damos conta, já roeu parte do nosso dinheiro.
O preço dos bens e serviços pode variar a qualquer momento; alguns preços sobem, outros descem. A inflação existe quando os preços aumentam de forma generalizada (e não apenas o preço de alguns bens específicos). Isso afecta-nos a todos, porque faz com que o dinheiro perca valor (a chamada “diminuição do poder de compra”); ou seja, precisamos de mais dinheiro do que antes para comprar os mesmos produtos/serviços. Um exemplo: se a taxa de inflação no ano anterior foi de 2%, isso significa que os preços em geral estão mais caros 2% do que no ano passado. Se no ano passado nos custava €100 comprar um determinado cabaz de compras, este ano custa-nos €102 comprar exactamente as mesmas coisas.
Nos depósitos, a inflação faz com que o dinheiro perca valor. Ou seja, se a inflação for de 2% e tendo em conta que os depósitos a prazo pagam em geral 1,64% de juros*, entre “o deve e o haver”, o nosso dinheiro está a perder 0,36%. É como se subscrevêssemos um depósito que “paga” juros negativos (ou seja, nos tira dinheiro em vez de nos dar). É como se tivéssemos uma nota de €100 debaixo do colchão durante um ano; ao fim de 1 ano, quando fôssemos ver tínhamos uma nota de apenas €98. O “rato” já tinha “roído um cantinho” da nota. Multiplicando isto por montantes maiores e por vários anos ou décadas, o “rato” vai roendo cada vez mais. (Se em vez de €100 fossem €1000, e em vez de 1 ano fossem 10, ao fim de 10 anos tínhamos apenas – aproximadamente - €817 em vez dos €1000 iniciais.)
Esta realidade só torna urgente a necessidade de investirmos o nosso dinheiro. Se nos investimentos podemos perder dinheiro? Há a possibilidade. Se nos depósitos a prazo perdemos dinheiro? Há a certeza!
* https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/noticias/2553/?utm_source=bportugal.pt
Fonte: Banco de Portugal; taxa de juro média de novos depósitos a particulares em Abril.
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