A ARTE DO FALSO

A “Arte do Falso” é uma exposição patente ao público desde o dia 18 do corrente mês, no edifício da Alfândega, Porto. A entrada é grátis e vale muito a pena visitar. Eu já visitei uma vez, mas como estava sem óculos e sem máquina fotográfica (perguntei ao Sr. da recepção se poderia tirar fotografias e ele disse-me que sim) por isso, prometi a mim mesmo voltar no mais curto lapso de tempo. Talvez já no princípio da próxima semana. É que, na verdade, fiquei mesmo deslumbrado. A exposição estará aberta ao público até fins do mês de Agosto.

O génio criativo dos delinquentes, para mim, que trabalhei nesta área mais de 30 anos, não é coisa completamente desconhecida, pois tendo sido durante esse tempo o responsável pelas actividades culturais, recreativas e desportivas, intramuros, sabia das habilidades manuais dos reclusos. Mas uma coisa é vermos um “fenómeno” por dentro, desenvolver-se sob o nosso olhar, ou seja, subjectivamente, e outra, muito diferente, reconheço agora, é ver esse fenómeno do lado de fora, objectivamente.

Em tempos dissertei sobre o verdadeiro e o falso delinquente, e, então, escrevi o seguinte: os verdadeiros delinquentes são os adaptados à realidade, mas não adaptados às normas sociais. Estes delinquem em qualquer sociedade uma vez que não respeitam nenhum tipo de normas sociais. São homens de personalidade forte que não se deixam dominar apenas por uma versão psiquiátrica, sociológica ou psicológica. Estas versões, quando muito, valerão para os “falsos delinquentes” (psicopatas, esquizofrénicos, oligofrénicos, débeis mentais, etc.) que delinquem pela própria força da sua doença mental.

Garanto que a “Arte do Falso” não é de um falso delinquente!

Aconselho, vivamente, os meus prezados leitores e público em geral, a visitarem esta exposição, através da qual ficarão a conhecer os verdadeiros génios do mal e quão inteligentes são estes génios! São eles que fazem a polícia andar a correr sempre atrás e não o contrário. Impossível o polícia saber o que cogita uma mente genial. Impossível saber o que uma mente destas vai parir. Por isso, impossível qualquer jogada de antecipação. Eis, por que descobrir estes fenómenos e suas consequências, por vezes, demoram dias, semanas, meses e anos.

Aconselho sobretudo os senhores: Historiadores de Arte, Juristas, Causídicos, Psicólogos, Sociólogos, Antropólogos, Criminólogos, docentes e discentes destas áreas, a não perderem, de jeito algum, esta exposição. Tenho a certeza que sairão de lá muito mais ricos, isto é, muito mais conhecedores dos meandros dos criminosos e o que se passa nos bastidores do crime.

A organização desta exposição coube ao nosso estimado conterrâneo, Dr. Norberto Martins, então, Director da Polícia Judiciária e, hoje, mui digno Procurador Regional do Porto. Primeiro passo para Procurador Geral da República, digo eu, porque qualidades não lhe faltam.

O nosso bem-haja por ser como é e, sobretudo, saber dignificar a Terra onde deu os primeiros passos. Estou certo que Paços tem muito orgulho por ter um filho assim…e, por isso, os pacenses não faltarão à exposição. Exposição que não é outra coisa senão o fruto do vosso trabalho.

Manuel Maia

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