18/01/2021, 19:54 h
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Em 1971, há precisamente 50 anos, estava em Angola, na “guerra do ultramar”, - que longo futuro eu já tenho atrás de mim! - e, nesse ambiente bélico, escrevi um poema com o título “A MORTE E A VIDA”. Quem passa dois anos, enterrado vivo, num “teatro de guerra”, a morte é, inevitavelmente, uma constante no nosso pensamento. Esse poema rezava, assim: “A morte vive com a vida/na mesma rua/na mesma casa/no mesmo quarto/no mesmo corpo/da mesma pessoa. / Por isso, vivemos tanto/quanto morremos!”
Hoje apetece-me esclarecer o que pretendia dizer, naquela altura, com as palavras deste poema. Na verdade, com o “covid-19” transformado em “pandemia”, vivemos em plena “guerra mundial”. De facto, o prefixo “pan” significa “todo”. E “pandemia” significa “extensão de uma epidemia a todo o globo terrestre”. Todos os governantes de todos os países lhe chamam “guerra mundial”. Logo, faz todo o sentido lembrar, neste momento, o que escrevi há 50 anos. Guerra é guerra, seja declarada ou oculta! Nesse poema faz-se referência à vulnerabilidade, fragilidade e mundo caótico em que vivemos. Sim, por mais estranho que nos possa parecer, nós acordamos com a morte; sentámo-nos à mesa com a morte; vamos para o trabalho com a morte; para os copos com a morte; para a discoteca ou para a igreja com a morte; circulamos por esse mundo fora sempre com a morte à ilharga ou às costas e, à noite, é com a morte que nos deitamos! Esta é que é a realidade!
Dito isto, apetece dizer outra coisa, não menos esquisita, que é o seguinte: “Não tenho medo da morte. Tenho medo de morrer”.
Parece estranho, mas não é!, porque se dermos crédito àquilo que afirmo, no penúltimo parágrafo, a morte é a nossa companheira diária desde que nascemos. Com efeito, ela será, pois, a coisa mais natural que nos espera. Ninguém gosta de falar neste assunto, porque é difícil, muito difícil explicar o óbvio, mas também não adianta escamotear ou fugir à questão! VIDA é o espaço que medeia do nascimento até à morte. É a este espaço que devemos dedicar toda a atenção, porque é o único espaço inteiramente nosso, que nos pertence verdadeiramente. Creio que dei a entender porque “não tenho medo da morte”.
Concentremo-nos agora na segunda frase, ou seja: “tenho medo de morrer”. O que é que se pretende dizer com isto? Simples. Não gostaria de morrer sem concretizar todos os meus sonhos. Sei, de antemão, que é impossível. Aliás, ninguém consegue. Se a idade algo nos traz de vantajoso, uma delas é esta: os sonhos vão diminuindo na medida em que envelhecemos, até perdemos totalmente a capacidade de sonhar. Aí chegados, a vida perde sentido. Porque “VIVER É SONHAR”! Então, deixando de sonhar, deixamos de “viver” e passamos a “existir”.
Cada um sonha com aquilo que mais quer e gosta. Eu tenho alguns sonhos: 1 - ver minhas netas crescerem e ouvi-las chamar avô; 2 - fazer um cruzeiro pelo Mar Mediterrâneo, a partir do Mar Adriático, (já o fiz até ao mar Tirreno). Completar este périplo mediterrânico, passando pelo Mar Egeu, visitando a Grécia; Israel/Jerusalém; com términus no Egipto, significaria duas coisas: ficaria a saber que havia Paz nestes países desde sempre tão belicosos, e ficaria a conhecer o berço da nossa Civilização.
Em termos sociais: gostaria de ver Seroa como a verdadeira “Porta de Entrada do Nosso Concelho”. E gostaria de, contrariando a vontade da Srª Ministra da Justiça, em vez de a ver abrir mais prisões, ouvi-la dizer que vai fechar algumas. Estupidez? Não! Pela experiência que tenho concluo que a maioria dos delinquentes precisam de “tratamento” e não de “prisão”. Por isso é que, um dia, escrevi: “OS FINS DA PRISÃO vs O FIM DAS PRISÕES”. Tema que desenvolverei no próximo número deste Jornal.
Associado à palavra guerra está o seu antónimo, ou seja, a palavra PAZ. No dia 1 de janeiro celebra-se o “DIA MUNDIAL DA PAZ”. É com votos de muita Paz, para todos, que termino, por hoje, não me esquecendo de vos lembrar que: só haverá Paz no Mundo, se houver Paz dentro de cada um de nós!
Manuel Maia
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