Por
Gazeta Paços de Ferreira

16/11/2020, 21:09 h

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UM AMIGO NUNCA MORRE (I)

Manuel Maia

Manuel Maia

Tenho poucos amigos. Muito poucos. Meia dúzia, talvez! São os que me restam, dos muitos que já se foram… dos muitos que vão desaparecendo da vista, que não do coração. Mas estes 6 valem ouro. Não os trocava por 60 de cariz duvidoso. Um desses amigos foi…foi não!, é: Dom José Augusto Pedreira. Um verdadeiro amigo nunca morre!

A verdadeira amizade não se diz, isto é, não se traduz em palavras, demonstra-se por actos.

O Prólogo que Sua Ex.cia Rev.ma Dom José Augusto Pedreira escreveu no meu livro DELINQUÊNCIA é prova dessa amizade.

Outras provas apresentarei no próximo artigo, que não é mais senão a continuação deste…

Prólogo

O leitor tem entre mãos uma publicação de reduzidas dimensões, um ensaio, capaz de provocar em si algumas inquietações. Ao abordar o tema da delinquência, Manuel Maia pretende reflectir e fazer reflectir, como ele próprio refere: “procurando reflectir enquanto escrevo, pretendo fazer reflectir quem me ler”.

Assistente social, técnico experiente na abordagem das complexas e obscuras teias em que se forja e movimenta a delinquência, procurou apontar e caracterizar algumas das causas geradoras de delinquência e sugerir hipóteses de solução. A criminalidade e os seus suspeitos meandros leva às cadeias milhares de cidadãos: cerca de 10 000 em Portugal (1985), 22 499 em Espanha (1986) e mais de 50 000 em França (1987).

Espírito inquieto, não quer deixar-se acomodar ao sentir mais comum da cultura actual, que parece aceitar a estrutura prisional como um mal inevitável. Desenvolvendo um progressivo raqciocínio crítico, interroga-se permanentemente sobre a evolução futura da sociedade e da própria cultura nas quais o homem tem a sua parte de responsabilidade. Quis dar o seu contributo pessoal para a reconstrução social, em que o marginal, que tantas vezes se identifica com o delinquente, seja visto e tratado como membro da universal família humana. Move-o uma “ânsia de melhorar qualquer coisa”.

Idealiza uma organização social que assuma a sua quota parte de responsabilidade no fenómeno da marginalidade, e prognostica uma sociedade sem cadeias.

Sonho ou realidade, poesia ou utopia, vale sempre a pena pensar e repensar este mundo em que vivemos. As cadeias nem sempre existiram como forma institucionalizada de expiação de penas e ninguém poderá garantir-nos que tenham de existir indefinidamente.

Com o objectivo de fundamentar a sua hipótese, analisa várias estruturas sociais, ensaia diversas relações de causa e efeito, formula e reformula conclusões, para chegar sempre à mesma conclusão: a delinquência postula um tratamento técnico-científico e as cadeias não realizam a missão social do delinquente.

Todos gostaríamos que a hipótese formulada pelo autor viesse a merecer a confirmação das experiências do futuro, embora ninguém possa afirmar, no actual estado das coisas, que estamos perante factos já confirmados pelos dados científicos.

Os recursos dos conhecimentos do técnico em assistência social e do “saber de experiência feito” nos muitos anos de contacto diário com o mundo das casas ou estabelecimentos de reclusão vão sendo colocados diante de nós. Através de curtos capítulos, vão sendo chamados a prestar o seu contributo ao tema em causa variadas técnicas, matérias científicas com nome próprio nos campos do saber erudito e da técnica. A maneira sintética como são abordados temas e conceitos, como os de cultura e aculturação, doença mental, fenómeno social, terapia comportamental, estruturas de personalidade, juventude, escola e família, por exemplo, deve entender-se dento do limitado espaço posto à disposição do autor nas colunas de um jornal diário, e dos objectivos propostos na elaboração deste trabalho. Isso fez com que muitos conceitos técnicos ficassem sem a conveniente explanação, o que os tornará pouco acessíveis ao leitor comum.

É evidente que o autor não tem a pretensão de dizer a última palavra sobre o assunto. Pretende lançar a sua gota de água na crescente fogueira da delinquência, cujas labaredas estão a devorar milhares de vidas, muitas das quais são jovens, sem que ninguém para já possa antever a sua extinção. É mesmo notório o incremento da sua fúria. Em Portugal, o número de presos por delitos de crime passou de 2200 em 1974 para cerca de 10000 em 1985.

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