16/12/2020, 16:02 h
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Dizia eu, no último artigo, que tinha decidido estabelecer como parâmetros, ou critérios, das minhas amizades: a Verdade e a Justiça. Outros poderão procurar outros motivos como forma de cimentar suas relações amistosas, como por exemplo: a Sinceridade; a Simplicidade; a Gratidão; o Reconhecimento; a Honestidade; a Franqueza; a Honra etc. Fundamentados desta forma, ou consolidados deste jeito, os laços que transformam os nossos “conhecidos” em “amigos do peito” qualquer um de nós, em consciência, chegará à infeliz conclusão que verdadeiros amigos pouco mais serão do que uma dezena. É que, infelizmente, a maioria se pauta pelos laços do interesse; do proveito próprio; das convenientes vantagens; enfim, dos benefícios ou ganhos que dessa “amizade” lhes possa advir. Amizade platónica, isto é, puramente ideal, é rara. É por isso que digo: o mundo está como está, não por ser como é, mas sim pelo tipo de pessoas que o habitam.
Decidi escrever os artigos com este título quando soube do falecimento de Dom José Augusto Pedreira. Não sou elitista. Pelo contrário, sou avesso a escrever sobre pessoas da elite, e, muito menos, chamar-lhes “Amigo”. Porém, os dois ou três episódios que vou contar, sobre D. José Pedreira, demonstram que não exagero. (1) – Um dia realizei uma exposição de “artesanato prisional”, no Salão Nobre da Casa da Beira Alta, à rua Stª Catarina, Porto. Creio que até hoje foi a maior exposição do género, isto é, realizada por um único Estabelecimento Prisional (Custoias). Reuni mais de 500 peças. Algumas muito valiosas. Como por exemplo, os tapetes de arraiolos. Nada disto seria possível sem a tão prestimosa ajuda da Obra Vicentina de Auxilio ao Recluso, “OVAR”, então presidida pelo Sr. Adão “oculista”. Pois bem, entre as altas individualidades convidadas estava incluído o Sr. Bispo do Porto, o qual, por questões de agenda, delegou no seu Bispo Auxiliar, Dom José Augusto Pedreira. E foi assim que, pela primeira vez, cheguei à fala com este Reverendíssimo. Quando lhe disse ao que ia, com um convite na mão, assinado pelo Sr. Director do E.P., Dr. João Pires, sua Exª. Re.ma disse-me: “Ó que pena! Chego precisamente nesse dia vindo de uma viagem a Londres…” e acrescentou: “Se chegar antes do meio dia, podem contar comigo”. E chegou… A cerimónia de abertura já ia adiantada quando o vi entrar portas adentro. Corri para o receber. Sussurrou-me ao ouvido: “Para cumprir o prometido aluguei um táxi e vim directo para aqui. Ainda não fui ao Paço”. Como facilmente se compreende, fiquei muito sensibilizado e reconhecido. (2) – Numa determinada altura, há muitos anos, a Srª Vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Felgueiras, Drª Fátima Felgueiras, decidiu criar uma Associação Cultural, de âmbito regional. Para isso contactou todas as Câmaras Municipais do Vale do Sousa. O Sr. Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Prof. Arménio d’Assunção Pereira, naturalmente, penso eu, endereçou convite a várias pessoas. Apenas disseram que sim, três: eu, o Prof. Dr. José Neto e o Sr. Mateus Ferreira. Este, talvez devido à idade, ao cansaço e aos problemas de saúde subjacentes, apenas foi a duas ou três reuniões. Mas eu e o Prof. José Neto fomos a todas. Esta Associação passou a designar-se “AEJAVAS” (Associação de Escritores Jornalistas e Artistas do Vale do Sousa). Nunca me esqueci do nome porque fui o seu autor (deixem passar esta imodéstia). A escritura realizou-se num Cartório Notarial em Fafe. Fui convidado para fazer parte da Direcção. Declinei tal convite porque nessa altura residia em Matosinhos. Com toda esta lenga-lenga eis onde quero chegar: sugeri à Drª Fátima Felgueiras que dinamizássemos ao máximo esta Associação. Perguntou-me como. Alvitrei que convidássemos altas individualidades para promoverem conferências. Aceitou. E quem foi o primeiro convidado? Nem mais nem menos que sua Exª Re.ma Dom José Pedreira, que não se fez rogado. A palestra foi num sábado à tarde e como seria de prever, a sala da biblioteca, abarrotou. Quando me dirigi ao Paço Episcopal, para formalizar este convite, Dom José Pedreira teve a gentileza, de me convidar para uma visita ao Paço. Devo ser dos poucos leigos que conhece todos os cantos desta Casa, em jeito de “visita guiada”. A cortesia era marca indelével deste Sr. Bispo. (3) – Ao passarmos por Seroa, quis mostrar-lhe esta minha freguesia. Disse-me que a conhecia muito bem pois já cá tinha estado pelo menos duas vezes. E contou-me algumas histórias relacionadas… que não vou contar aqui, nem agora. (4) – É óbvio que o fui visitar a Viana do Castelo. Não enquanto Bispo no activo, mas, sim, depois de passar a Bispo Emérito. Estava ele, então, “internado” num lar dirigido por freiras na freguesia de Darque. Vieram-me as lágrimas aos olhos quando ele me viu e reconheceu. Tinham decorrido cerca de 13 anos. Hoje ainda me arrepio, quando penso neste verdadeiro “servo de Deus”; quando me contou coisas que só se contam aos verdadeiros amigos; quando me falou dos graves problemas que encontrou na Diocese de Viana; quando me desnudou sua alma. Forte abraço, AMIGO. Descanse em Paz!
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