05/05/2024, 0:00 h
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OPINIÃO
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“Coisas da Arca do Velho” é diferente de “Coisas do Arco da Velha”. No “Arco da Velha” há histórias incríveis, fantásticas, surpreendentes, invulgares, envolvendo o esoterismo, ou seja, o secretismo, o oculto, o misterioso, o estranho, por isso, muito explorado por seitas religiosas ligadas ao espiritismo. Esta doutrina pretende provocar a manifestação dos “espíritos”, em particular a das almas dos defuntos e entrar em comunicação com eles através dum mediador a que chamam “médium”. Esta expressão “Coisas do Arco da Velha” vem desde o Antigo Testamento, do tempo em que ninguém sabia explicar o aparecimento do arco-íris, a que chamavam, também, “arco-da-chuva” ou “arco-da-aliança”. Quando não se sabe explicar, especula-se! O povo é perito em especulações e nestas inclui sempre uma pitada de superstição. Ora esta crendice, própria de gente ignorante, abunda entre analfabetos e países subdesenvolvidos. Aqui, em Portugal (um país, há décadas, em vias de desenvolvimento) é nas zonas do interior, junto à raia, que este fenómeno vem à tona. O Padre António Lourenço Fontes, de Vilar de Perdizes, Montalegre, soube “explorar”, melhor que ninguém, tudo quanto aqui deixo escrito. Foi-lhe proibido a prática de tais actos, mas prevaleceu a vontade popular e a do Sr. Padre que, pelo que me disse, pretendia, com tais acções, acabar com muitos terrores e pavores entre este género de pessoas.
“Coisas da Arca do Velho” são, parafraseando o nosso ilustre Fernando Santos (Edurisa Filho), “Coisas Minhas”. Coisas que vou buscar ao fundo da gaveta mais funda da minha memória. Desta gaveta saco os meus primeiros anos de escola. Escola da Poupa. Que tortura, meu Deus! Como professora, logo no primeiro ano, calhou-nos uma regente, esposa de um pedreiro (pedreiro para mim é profissão tão digna como a de qualquer Dr.). Ensinava sem método. Logo, não sabia ensinar. Mas sabia bater. Nós putos de 6 e 7 anos, enquanto a esperávamos fazíamos jogos de futebol; matávamos formigas, mijando-lhes em cima; só muito mais tarde, já no 3º ano é que, utilizando o mesmo sistema “mata-formigas”, escrevíamos o nosso nome no alcatrão, só para mostrar aos “caloiros” que já sabíamos as letras. Tudo isto em plena estrada nacional. Automóveis quase não havia. Estou a falar dos anos 60. Certos eram os camiões do Gil branco e Gil preto, e as “camionetas do sola” que faziam a carreira Paços-Porto e vice-versa. Mas estas estavam sob controlo porque conhecíamos os seus horários. Quando a professora aparecia de bata mais ou menos branca e cana da índia na mão, desfazendo a contra-curva da Júlia salgada/Miquinhas padeira, logo alguém gritava: AÍ VEM A NOSSA SENHORA! Sim, porque dizer professora, naquela idade, era complicado. Era uma palavra difícil. Com uma professora deste calibre eram mais as vezes que fugia às aulas do que as que comparecia. Íamos aos ninhos para os lados do rio-do-meio e rio-seco. Ao fim da tarde fazíamos uma fritangada. Por vezes ajudávamos o “grenha” no pastorício.
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Na 4ª classe, 10/11 anos, imitávamos os adultos, jogadores de malha. Estes, a dinheiro. Nós, a botões. Os adultos, profissionais da malha, tinham poiso certo em frente ao “café do Amílcar”; e nós, no souto da Igreja. Como não tínhamos dinheiro jogávamos, como disse, a botões: um botão de casaco ou sobretudo valia por dois; o da carcela (que nós dizíamos cancela) valia um, e o de camisa valia meio. Quem pusesse um de casaco podia levantar um de breguilha e quem não tivesse um destes tinha que pôr dois de camisa. Jogávamos à sameira, ora com bolinhas de vidro, ou bugalhos, ora com caricas. Jogávamos ao “aí vai aço”. Jogávamos ao pião. E, como não podia deixar de ser: futebol.
Estas brincadeiras, próprias de inocentes, azedaram quando passaram “à guerra da pedra ou pedrada”: os de S. Domingos contra os da Costa. Eu como estava numa zona neutra, abestia-me. Normalmente ganhavam os de S. Domingos. Moços muito aguerridos, corajosos e sem medo.
Moral da história: a escola primária é muito, muito, muito importante. A partir daqui o aluno fica a gostar, ou não, de estudar. Eu nunca gostei… senão agora!
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