18/08/2024, 0:00 h
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OPINIÃO
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Ponto número 1:
Quando era miúdo dirigia-me para a escola da Poupa pela Rua de Santana abaixo. Como era a descer a corrida surgia sem esforço. Mas, no regresso a casa vinha pela Rua dos Almocreves (que naquele tempo se chamava Rua da Poupa). E porquê estes dois trajetos? Porque na “ida” ia sempre atrasado, ao passo que na “vinda”, vinha sempre nas calmas. Todavia, para mim, havia um outro motivo secreto, muito secreto: perdia meu olhar em nossa Sr.ª do Leite a dar de mamar ao Menino Jesus, cenário que se via espreitando por um pequeno janelo existente na Capela do Calvário. Adorava aquele quadro. Aquela imagem tão humana dava-me vontade de convidar Jesus para brincar, porque O sentia igual a mim, ou melhor, igual a nós, porque atrás de mim outros miúdos de escola se juntavam. Era de facto encantador. Maravilhoso! Um quadro pleno de intenções humanísticas, tendo por centro de suas intenções não ideias abstratas, mas o homem concreto. Neste caso, o Menino feito Homem e o Homem feito Deus. É evidente que não era um quadro original. Era uma cópia. Esta romagem de saudade vai levar-me a tentar descobrir onde se encontra o quadro original, em que museu e quem foi o seu autor? E, claro, irei tentar visitar. É uma obra centenária. Aliás, como todos os Santos existentes naquela capela. Por isso, de valor incalculável. Capela que o Pe. Fernando Vieira Lopes, com este acervo, quis transformar em museu. Espero que o actual responsável por estas obras, ou seja, o detentor das chaves da capela tenha consciência disso e as mande restaurar. O dinheiro que fez com a venda e trespasse, por ajuste directo, dos BENS PAROQUIAIS, é mais que suficiente para este restauro.
Ponto número 2:
A par da escola, ou seja, ao mesmo tempo que frequentávamos a “primária”, começamos, também, a frequentar a catequese. Mas esta só aos sábados. Tínhamos entre 6 e 7 anos. A minha catequista foi a Dininha do Sr. Coelho. Era pároco o Pe. Paiva. Figura muito austera. Sempre de batina. Aliás, como era hábito naquele tempo. Quando ele passava da residência paroquial a caminho da Igreja, se nós, crianças de calções, estivéssemos a jogar à bola, espécie de futebol com regras feitas à pressão, imediatamente parávamos o jogo e corríamos para ele, beijando-lhe a mão. Instruções da catequista que nós cumpríamos religiosamente.
Aprendemos no primeiro ano de catequese a rezar “a Avé-maria, o Pai-nosso, a Glória-ao-pai e a oração ao Anjo da guarda”. A Salvé-rainha e o Credo ficaram para anos posteriores. “Chumbava” quem ao fim do ano não soubesse rezar o Pai-nosso. O examinador era, claro, o Pe. Paiva. Quando aprendi esta oração achei-a tão bonita que pensei: “Quem me dera ter sido eu o autor desta oração!” Era a poesia a vibrar já, dentro de mim! Sim, o Pai-nosso é um verdadeiro poema, um hino à religião e à fraternidade, cheio de música. Só muito mais tarde, já adulto, vim a saber que esta foi a oração que Cristo ensinou aos Apóstolos no Jardim das Oliveiras. E passou a ser a minha oração favorita. De resto, uma das poucas que sei de cor e cito com todo o fervor. As outras, não! Aliás, o Credo que será o principal “dogma do cristianismo”, para além de não o saber de cor, não consigo entender.
Por vezes, depois de sairmos do SALÃO PAROQUIAL DE SEROA, local onde éramos catequizados, envolvíamo-nos em discussões, quais putos armados em filósofos. Então se algum se lembrava de perguntar: - “Ó pá, o que é que quer dizer ‘Avé-maria, cheia de graça?’ - Logo, outro, todo vaidoso, com a explicação na ponta da língua, respondia: - “Eh pá, pareces burro! Então não vês que era uma Maria muito engraçada?!”
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