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Gazeta Paços de Ferreira

20/09/2025, 0:00 h

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De Timor a Gaza

Atualidade Opinião Ricardo Neto

OPINIÃO

No dia 8 de setembro de 1999, em Portugal, cerca de 300 mil pessoas formarem um cordão humano ao longo de 10 km, unindo as embaixadas de cinco países do Conselho de Segurança da ONU. Tudo começou, quando dia antes se ficou a conhecer o resultado do referendo em Timor Leste, sobre a aceitação duma autonomia oferecida pela Indonésia!

Por Ricardo Jorge Neto

 

O povo da ilha do crocodilo rejeitou amplamente a Indonésia e disse ao mundo que queria tornar-se numa nação independente. Contudo as forças contrárias a esta decisão, formaram milícias, e vieram para a rua espalhar o terror. Nunca esqueci, as imagens duras duma pessoa a ser esquartejada em plena rua! A violência tomara conta de Díli, e os que puderam, abandonaram a ilha, mas a maioria do povo foi deixada à sua sorte, refugiando-se na UNAMET ou nas montanhas!
Com estas imagens cruéis que nos chegavam, não pelo telemóvel, mas pela televisão, os portugueses revoltaram-se e reagiram! Assim, naquele dia 8 de setembro, todo o país se uniu e se manifestou num gigantesco cordão humano, em Lisboa. No telejornal desse dia, lembro-me de três imagens. A primeira de António Guterres, o primeiro-ministro na altura, na rua com semblante fechado e pensativo. No final desse dia iria ligar a Bill Clinton, o presidente dos Estados Unidos, e a Kofi Annan, secretário-geral da ONU. Uma segunda imagem, a presença do líder do PSD e da oposição, Marcelo Rebelo Sousa, que proferiu palavras críticas sobre a atuação de Bill Clinton, pedindo aos americanos para intervirem em Timor, assim como intervieram noutros pontos do mundo, quando lhes convieram. Por fim, duas crianças de uniforme de escuteiros, que se juntaram ao cordão, em solidariedade com as crianças que estavam a passar fome em Timor! Este gesto dos portugueses teve impacto mundial, e em 2002, Timor-Leste foi proclamada como uma nação independente!

 

 

 

 

Regressando a 2025, eu pergunto: onde está este Portugal? O Portugal da empatia e da solidariedade, que se unia para mostrar ao mundo o que estava errado. Hoje sinto, que já derrubamos a barreira da indiferença, e que estamos no patamar seguinte da desumanidade. Hoje insulta-se gratuitamente quem tenta ser solidário, e tudo isto patrocinado e maquinado por algoritmos, que visam incutir: medo e ódio! Alguém consegue entender, a quantidade de barris de ódio e insultos, que hoje são destilados nas redes sociais, contra um grupo de pessoas, que decidiu levar ajuda ao povo palestiniano? Foram para dar nas vistas, dizem. Sim, a ideia é mesmo essa, chamar a atenção do mundo, assim como Portugal fez com o cordão humano em 1999!
Fecho, voltando às três imagens da reportagem. Em 2025, António Guterres, agora no cargo de Secretário-Geral da ONU, continua de semblante fechado e pensativo, e continua a ligar aos líderes mundiais, mas ninguém ouve! Marcelo Rebelo Sousa, é hoje o Presidente da República, mas se dantes criticava o chefe americano, e tinha apoio, hoje num mundo de cinismos, é repudiado, porque Portugal tem medo de ofender o dono do mundo! Por fim, os dois jovens escuteiros, será que sentem compaixão pelas crianças que passam fome em Gaza? Ou ao verem estas imagens, fazem um rápido movimento de scroll, passando para o vídeo seguinte, onde param, para partilhar o milésimo vídeo dum populista proclamando o evangelho do ódio ao próximo?

 

 

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