08/09/2024, 0:00 h
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CULTURA
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Um minúsculo grão de areia na imensidão das praias do mundo é o que sou. Grãos tão iguais, tão diferentes em tamanho, em irregularidades, todavia impossíveis de serem nomeados um por um. Assim, informe, também eu sou partícula anónima nesta praia – ou talvez neste deserto – apenas contribuindo para o assombroso número de habitantes do planeta, invisível e não identificável para a maioria dos mortais.
Um grão. Se ao menos fosse de trigo, aproveitar-me-iam para o fabrico do pão, para a manutenção da vida, dando vida a quem me incluísse no seu plano alimentar. Porém, sendo pedra, minúscula ainda por cima, não valho nem para a construção de muralhas que reforçam as fortalezas, nem para as paredes que protegem uma casa, nem para a pavimentação dum chão. Só acrescentado a uma infinidade de outros elementos de que me não distingo, unidos em rijo betão, terei utilidade no campo da construção.
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Não, grão de areia não sou. Recuso aceitar-me inominável, ser amorfo. Sou, talvez, uma centelha deste sol que me esquenta o corpo agora, me dilata as ideias – nem sempre boas – me faz sentir, sentindo os seus efeitos na minha condição. Uma centelha, ainda que uma infinitésima parte do astro que espera pacientemente pelas voltas da terra, é algo que mexe, que incomoda e consola, que faz a gente perceber que está viva e que vale a pena viver.
Grão de areia sim, mas nas horas em que o isolamento se torna uma necessidade, exigência de passar pelos outros sem ser notado, ser eu próprio sem ligar a outrem para me sentir alguém. No resto, nas rodas e nos cruzamentos da vida, centelha de sol, ou do universo quero ser, sendo aquele que, de qualquer forma, é sentido e notado pelos seus.
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