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Gazeta Paços de Ferreira

21/09/2025, 0:00 h

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GUTERRES versus NETANYAHU

Atualidade Opinião António Colaço

OPINIÃO

Em 28 de Agosto deste ano, António Guterres exigiu o fim de “mentiras”, “desculpas” e “obstáculos” do governo israelita à ajuda humanitária em Gaza. As imagens divulgadas pela TVs, os comentários jornalísticos e a recente eliminação física de 5 jornalistas em 25.08. demonstram bem a fúria e amplitude do massacre em curso num contexto de cerca de 63.000 palestinianos mortos, parte considerável dos quais constituída por crianças, mulheres e idosos.

Por António Bernardo Colaço (Juiz Conselheiro STJ Jubilado)

 

Netanyahu pertence àquela classe de políticos ‘fora de lei’ para quem a Carta da Nações Unidas, as Resoluções do Conselho de Segurança, o direito internacional, a democracia e direitos humanos são letra morta. É com base neste postulado que, fugindo à prática do consenso mundial civilizacional de nações democráticas, considerou o Secretário-Geral da ONU “persona non grata” no Estado de Israel.

 

Este individuo é um político vulgar que não tem pejo em pôr em causa a dignidade da religião a que pertence, utilizando-a para fins políticos. Por outro lado, faz desacreditar o seu próprio povo, invocando-o para a prática de atrocidades humanitárias, estas que mereceram já críticas de altas individualidades israelitas, como o escritor David Grossman (entrevista ao jornal italiano La República de 01.08.2025) e Moshe Yaalon (antigo ministro de defesa de Israel), (o 1º alude ao genocídio e o 2º, a crimes de guerra).

 

As chamadas IDF – Forças Armadas de Israel não estão isentas de responsabilidade e culpa, apesar da alegação de que ‘cumprem ordens’. Elas dispõem de meios mais modernos de tecnologia bélica, mesmo baseada na IA, nada justificando por isso a proporção de civis indiscriminada e aleatoriamente trucidados. Esta atuação  viola a * Resolução do Conselho de Segurança nº1655 de 31.01.2006; *o artigo 3º da Convenção de Genebra relativa à Proteção de Pessoas Civis em Tempo de Guerra, de 12.08.1949 e o * Direito Internacional Humanitário (t.c.p. Direito Internacional de Conflitos Armados) que tem o seu fundamento na IV Convenção de Genebra e seus Protocolos Adicionais de 1977 e 2005.        

 

 

 

 

As recentes manifestações em Israel vêm demonstrar que o povo já não acredita na motivação de “libertação de reféns” propalada por Netanyahu para justificar a sua fúria destruidora de bens e pessoas civis de Gaza, desde logo porque nada garante que os cadáveres de reféns, que vão sendo encontrados, não possam ser o resultado do indiscriminado bombardeamento a que a Faixa de Gaza é sujeita. Aliás o bom senso aponta que, em termos negociáveis do lado de Hamas, um refém vivo valeria mais que um refém morto.

 

Em termos da política internacional, à parte, o prometido reconhecimento de um Estado Palestiniano por ocasião da próxima Assembleia Geral da ONU, é de domínio público o quase incondicional apoio dos EUA à política do Estado de Israel – “a Riviera de Gaza” incluída.

 

Neste ponto é de avaliar é a posição da EU sobre este conflito, tendo em conta que esta se assume depositária de valores democráticos e de respeito pelos direitos humanos. Para salvar a face, Kala Kallas, Alta-Comissária da EU para Negócios Estrangeiros, informou que haviam sido “acordadas medidas significativas por parte de Israel para melhorar a situação humanitária na Faixa de Gaza”. Tudo não passou, porém, de uma miragem já que, quando este escrito é elaborado, a Faixa de Gaza é qualificada de “cemitério de direito humanitário internacional” (declaração de Phillipe Lazzarini – Chefe da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados de Palestina - UNRWA- ao El Pais -03.09.2025).    

 

 Aqui chegados e feito este breve balanço da realidade no Médio-Oriente, o que será que o futuro reserva neste domínio? Ameaças graves perfilam no horizonte. A repulsa generalizada, que continua a se registar por este mundo fora, é de molde a colocar historicamente Netanyahu como o político maquiavélico do séc.XXI e de ser o responsável pelo eventual ressurgimento de um antissemitismo israelita, que parecia estar a desvanecer-se em homenagem ao Holocausto nazi. Por outro lado, as feridas geradas deste conflito serão muito difíceis de sarar e podem gerar condições propicias para um estalar de novas organizações anti-israel, caso um Estado Palestiniano não entre em efetividade.

 

Acreditemos num mundo melhor.

 

 

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