15/02/2023, 0:00 h
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CRC 1º MAIO FIGUEIRÓ
O contacto com o Padre António Vieira para nos ceder uma sala na sua residência foi uma mera formalidade, já que era conhecida a sua disponibilidade total no apoio às nossas iniciativas e às dos jovens em geral.
(A tia do padre, que era a sua criada doméstica,é que nunca simpatizou com a nossa presença no local, mas a sua “oposição” até funcionou sempre como motivo para aumentar a nossa boa disposição).
Obtido o local para a instalação da biblioteca, com a bênção do pároco, e de forma totalmente gratuita, havia que deitar as mãos à obra, pois no local havia apenas uma pequena mesa e algumas cadeiras e um velho gravador de fita, que o padre nos entregara e que viria a servir no futuro para as nossas mais diversas artes e habilidades.
Contactei o José Maria Barros, que geria e era proprietário da loja comercial mais conceituada e apetrechada da freguesia, e além disso era o meu companheiro predileto (embora cerca de uma dúzia de anos mais velhos) para nos oferecer os tijolos, para com umas tábuas, levadas pelo Zeferino Martins da oficina de carpintaria de seu pai Francisco (mais um saudoso companheiro de longas e interessantíssimas conversas noturnas) montarmos a estante necessária para ir acolhendo os livros, que, entretanto, fôssemos comprando,ou trouxéssemos requisitados da biblioteca da Gulbenkian.
O José Maria Barros, embora, naquela altura, não estivesse connosco, não poderia recusar o meu pedido, ofereceu-nos os tijolos e lá montamos a estante, com os tijolos e com as tábuas, que depois viriam a ser gentilmente forrados a papel pelas queridas companheiras, que foram aderindo ao grupo masculino, e que tanto contribuíram para derrubar barreiras e tabus e marcaram positivamente o arranque da Biblioteca.
O primeiro livro adquirido foi o “Contos Exemplares”, um conjunto de contos de Sophia de Mello Breyner Andresen,publicado em 1962, que nos custou 30 escudos.
Ficou estabelecido que cada associado pagaria semanalmente 2 escudos e 50 centavos, exatamente metade do custo de um maço de cigarros Sagres, que era a marca mais fumada por nós, e que custava 5 escudos.
Entretanto, lá íamos (normalmente eu e o Vítor Abreu) à Gulbenkian em Paços de Ferreira requisitar livros, para os colocar na estante do tijolo e das tábuas, ao serviço da leitura dos nossos colegas e associados.
Encontrávamo-nos na Biblioteca, pelo menos, uma vez por semana, ao domingo, antes e depois da missa, para procedermos à cobrança das quotas, entregar e receber requisição de livros e planear as atividades para a semana seguinte.
Então organizámos uma listagem dos sócios, colocando os seus nomes no livro para o efeito, onde registávamos os pagamentos e criámos também um outro livro de registo das requisições.
Os livros eram adquiridos por sugestão dos associados e será interessante referir que as primeiras ugestões apresentadas foram para livros de caráter sexual, o que é compreensível, dada a ignorância reinante sobre tudo quanto ao sexo dissesse respeito, e que, por outro lado,era uma frente da vida que nós os jovens começávamos a tentar abraçar com todo o empenho e determinação.
Comprámos então os livros “A Vida Sexual dos Solteiros e Casados”, de João Mohana, da editora Livros do Brasil, que, atualmente, seria adotado, sem problemas, por qualquer sacristia conservadora e mesmo reacionária, e “A Nossa Vida Sexual” do Dr. Fritz Kahn,um livro de caráter científico e ilustrado
Caiu o Carmo e a Trindade no beatério analfabeto!
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