26/11/2022, 0:00 h
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Penso que o título, destas minhas crónicas, diz tudo.
Num sentido muito real, temos duas mentes, uma que sente e outra que pensa. É um facto inerente a todas as pessoas. Porém, vá-se lá saber porquê, poucas pessoas, conscientemente, darão por isso. Preguiça mental, julgo eu!
Aqui há tempos, escrevi três poemas a Fernando Pessoa, a quem ninguém negará o dom do “Saber Sentir”, inteligentemente, a Poesia. Por isso mesmo, o grande escultor José Simões o apelidou de “O Senhor Poeta”. Um desses meus poemas, que vou colocar aqui em letra corrida, para não ocupar muito espaço, reza assim:
“O Saber/está no Sentir. O Sentir/no saber o que se é. Sábio,/ é o que sabe ser/no existir. Poeta,/é o que sabe sentir. Eis porque não há credo sem fé/ e não é Sábio ou Poeta/aquele que se julga que é!”
Penso que neste poema refiro as duas maneiras diferentes do Saber: a Emocional e a Racional. Eu nunca compreenderei bem as “coisas”, se não me compreender bem a mim. Nunca saberei o que é, se não souber o que sou. Para atingirmos um conhecimento profundo da realidade em que vivemos é fundamental que a Inteligência Emocional e a Inteligência Racional interajam entre si. Só assim será possível construir a nossa vida mental. A Inteligência Racional usamos quando queremos compreender rapidamente, sem grande esforço, o que se passa à nossa volta, bastando para tal estar atento, pensar um pouco e reflectir. A Inteligência Emocional, não menos importante, insere-se num sistema de conhecimento impulsivo e poderoso, ainda que por vezes ilógico. Esta dicotomia, ou divisão do sistema cognitivo, aproxima-se da distinção popular entre “ter coração” e “ter cabeça”. Saber, “no coração”, que uma coisa está certa é uma espécie de certeza profunda. Quanto mais intenso é o sentimento, mais dominante se torna, quase tornando ineficaz, inútil, inoperante a mente racional. E esta ineficácia leva-nos ao crime, ao ódio, à loucura…
Este pensamento ocorreu-me, hoje mesmo, 15/11/2022, depois de ter lido num jornal o número de crianças assassinadas pelos próprios pais por simples questão de vingança. Vingam-se nas crianças o ódio que nutrem um pelo outro. Só este ano foram assassinadas, aqui em Portugal, pelos seus progenitores, cerca de dez crianças entre os 2 e os 5 anos. Que horror! Nunca vi um animal selvagem proceder assim!
Quando entrei para os Serviços Prisionais, onde permaneci mais de 30 anos, numa aula de criminologia, lembro-me de terem falado na “lógica do crime”. Pois ela aqui está, no modelo da mente emocional capaz de explicar como tanto do que fazemos pode ser emocionalmente conduzido, como podemos ser tão razoáveis num momento e tão irracionais no seguinte, e em que sentido as emoções têm as suas próprias razões e a sua própria lógica.
O ódio, com seu cortejo de brutalidades, só pode ser fruto de paixões descontroladas, as quais fornam as mentes doentias.
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