18/02/2023, 0:00 h
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OPINIÃO | SAÚDE MENTAL
Insisto no tema “empatia/ausência de empatia” (continuação do Artº anterior) porque é em torno dele que o mundo gira.
Se a “empatia” gera amor, a “ausência de empatia” gera, ou pode gerar, ódio.
Eis o eixo em torno do qual nos movimentamos. Se o amor nos leva a praticar o Bem, o ódio leva-nos a praticar o mal. E, este, sem que as pessoas tenham alguma vez pensado seriamente no assunto produz doenças, sobretudo doenças de foro psíquico.
Qualquer Psiquiatra sabe que a ira, ansiedade, depressão, pessimismo e solidão são sentimentos perturbadores com origem na “ausência de empatia”. Logo, combater este tipo de sentimentos é uma maneira de prevenir a doença.
Está provado cientificamente que esta doença, assente em “emoções negativas”, cria vícios, os quais, com o passar do tempo, passam a crónicos, sendo equivalente ao hábito de fumar, drogar ou ingerir bebidas alcoólicas.
Uma maneira de combater este “flagelo” seria ensinar às crianças as competências básicas da Inteligência Emocional de modo a transformá-las em “bons hábitos”.
Outra estratégia preventiva altamente eficaz seria ensinar “gestão de emoções” às pessoas que se aproximam da idade da reforma, uma vez que o bem-estar emocional é um dos factores que determina se a pessoa idosa declina rapidamente ou continua de boa saúde.
Um terceiro grupo seriam as chamadas populações de risco (os muito pobres, as mães solteiras, os moradores em zonas com altos níveis de criminalidade, enfim, todos os que vivem em condições de grande tensão, teriam muito a ganhar, em termos médicos, se as ajudassem a lidar com o preço emocional dessas tensões).
Muitos pacientes podem beneficiar consideravelmente só pelo facto das suas necessidades emocionais serem atendidas ao mesmo tempo que as suas necessidades puramente médicas.
É urgente uma medicina mais humana. Quando um médico ou uma enfermeira oferecem a um doente perturbado conforto e carinho é meio caminho andado para atenuação da doença ou dor que esta provoca. É tempo da medicina tirar um proveito mais metódico da ligação entre emoção e saúde. É lugar comum dizer-se que “o amor cura”.
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Não faço muito esforço para falar destes assuntos, por dois motivos:
1 – Minha tia Luzia, irmã de minha mãe, faleceu quando eu tinha 8 anos. “Doença na barriga”, diziam-me os meus irmãos, escondendo, desta feita, um cancro no útero. Era visitada, dia sim dia não, pelo Dr. Jaime Barros.
Quem conheceu bem este excelente médico, recordará certamente o seu ar austero e cara de poucos amigos (deixem passar esta metáfora).
Curiosamente era um anti-clerical, mas que contava no seu rol de amizades muitos e bons padres (creio que o Eça de Queiroz também era assim, se não fosse por outra razão, seria para poder criticá-los cara-a-cara, sem hipocrisias).
As freiras, responsáveis pela manutenção e asseio do hospital, andavam num corrupio quando ele se aproximava. Ao passar pelo corredor, onde o aguardava já um ror de doentes, todos se levantavam (eu ia dizer: até os paralíticos). Sua personalidade impunha respeito. Muito respeito. Pois bem, por detrás desta cortina de austeridade, severidade, rispidez, vivia uma pessoa com um coração de oiro. Sempre que visitava minha tia trazia uma rosa e fazia questão de frisar que era do seu roseiral. Tal gesto tinha o poder de um analgésico, pelo menos momentaneamente. (um aparte: não à dúvida que estou a ficar velho. Recordo estas cenas passadas há 60 anos e não me lembro o que fiz ontem…)
2 – Como já referi, aqui, um dia, trabalhei durante mais de 30 anos em prisões (numa existia, e ainda existe, um “anexo psiquiátrico”); depois da aposentação, fiz 10 anos de voluntariado em hospitais (Pedro Hispano, Magalhães Lemos e outros) lidei, portanto, com todo o tipo de doentes mentais: desde os psicopatas, passando pelos esquizofrénicos, até aos “doentes disfarçados”. Homens que não passavam de “crianças viciadas”. Tal facto fez de mim um curioso da Psicologia, Sociologia e Psiquiatria. Aquilo que sei foi a vida que me ensinou. E aquilo que transmito é aquilo que sei!
Manuel Maia
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