13/12/2025, 0:00 h
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OPINIÃO
Por Ricardo Jorge Neto
Imaginem aquele típico cenário da ida ao médico, em que o médico diz ao paciente que ele tem apenas três dias de vida!
A história tem variadíssimos finais, mas se os intervenientes estivessem na cidade mais a norte do planeta, a cidade de Longyearbyen, a frase que se seguiria no diálogo seria:
- Não se esqueça, que tem três dias para sair da cidade, porque não se pode morrer cá!
Podem pensar, que isto surgiu da cabeça dum populista da moda, que resolve todos os problemas das pessoas de forma fácil e imediata, com soluções básicas e simplistas. Mas não, em Longyearbyen, na ilha de Svalbard, junto ao Pólo Norte, ninguém lá pode morrer!
Deve ser nesta ilha, que tem cinco meses de noite e sete meses de dia, que viverá o Pai Natal, porque sejamos correctos, para alguém daquela idade continuar vivo ao fim de tantos anos, é porque alguém o proibiu de morrer, aumentando-lhe a idade da reforma gradualmente! Contudo com a nova lei laboral, este corre o risco de ser despedido ser receber qualquer recompensação, sendo substituído por um trabalhador precário duma qualquer empresa de outsourcing…
Mas regressando ao campo da realidade, convém explicar a razão pela qual não se pode morrer em Longyearbyen. Esta pequena cidade, com pouco mais de dois mil habitantes, foi fundada em 1906 pelo empresário do carvão John Munroe Longyear, que iniciou a exploração de minério nessa região gelada do planeta.

Mas foi apenas nos anos 50 do século passado, que surgiu a necessidade de impor esta lei. Tudo isto se deveu, quando se encontraram corpos de pessoas falecidas durante a Gripe Espanhola, entre 1918 e 1920. E, ao contrário de todas as pessoas falecidas nesses anos, os corpos encontrados em Longyearbyen estavam intactos! Não se tratavam de santos com corpos incorruptos, mas duma consequência duma camada de solo completamente gelada, o chamado permafrost.
Qualquer pessoa enterrada neste território terá o seu corpo conservado, assim como os vírus que os possam ter levado à morte, o que se torna um perigo para a saúde pública.
Assim, a partir dos anos 50, passaram a ser proibidos os cemitérios, sendo assim proibido morrer nesta terra. Quando alguém morre, ou sabe que poderá morrer em breve, é enviado para a Noruega, onde poderá encontrar o seu descanso eterno e natural!
Infelizmente, as leis dos homens nada podem contra as leis da natureza, não podemos proibir o falecimento de alguém, por muito necessário e importante que nos seja! Mas as leis dos homens têm a obrigação de tornar a vida de todos melhor! E poderíamos começar, exactamente, pelo início, pelo nascimento… não acham que devia ser proibido, uma criança nascer num passeio ou numa ambulância?
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