Por
Gazeta Paços de Ferreira

26/12/2025, 11:22 h

13

Serviços de Saúde de “urgência” em Paços de Ferreira

Opinião Saúde Celina Pereira

OPINIÃO

A política local em Paços de Ferreira tem, aparentemente, uma nova modalidade de saúde pública: o "atendimento médico com promessa de futuro", veiculado por canais não institucionais. Perante um surto de gripe que nos transforma a todos em figurantes de um filme de terror viral, o que era um serviço crucial tornou-se um escândalo de cinismo à porta fechada.

Por Celina Pereira

 

O executivo, numa jogada de mestre que faria corar um ilusionista, anuncia a intenção de  concurso de  um contrato fugaz com uma clínica privada para garantir o atendimento até à meia-noite. Um serviço crucial para compensar a falência estrutural dos centros de saúde que, como todos sabemos, têm horários mais limitados que as de ferragens em dia de domingo.

 

Este serviço, gratuito e vital, durou o tempo exato de uma campanha eleitoral. Oferecer saúde para lá das 20h00 é um luxo, que só se justifica quando é preciso manter o eleitorado calmo e a caneta afiada. Assim que as urnas fecharam e a vitória foi consumada, o contrato com a Clínica evaporou-se no ar, como se fosse um sonho bom  de um doente febril.

 

O mais chocante é que, em vez de reativar esta medida crucial com o país a ser invadido por uma vaga de gripe que transforma os hospitais em campos de batalha apocalípticos — com corredores a transbordar e médicos a desmaiar de exaustão —, o município optou por... fazer um post no perfil pessoal do atual Presidente.

 

O executivo comunicou que o serviço de extensão de horário irá continuar em 2026, mas sem apresentar datas concretas para a sua reativação imediata. A mensagem é clara: "Obrigado pela preferência, mas a urgência acabou... a nossa. Volte em 2026 para mais promessas veiculadas pessoalmente."

 

A ironia atinge o seu pico neste inverno. O pico da gripe está agora e prevê-se que a situação se agudize até ao Natal. Se a medida era financeiramente exequível para fins de caça ao voto, por que razão não é de bom tom antecipá-la, quando a população mais precisa, em vez de acenar com uma data no futuro distante e vaga.

 

 

 

 

Paços de Ferreira usa a falência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) para se promover, mas falha miseravelmente em demonstrar um interesse genuíno pela saúde pública. A falta de visão, ou pior, a deliberada falta de vontade em manter um modelo, que provou ser eficaz a descongestionar o sistema, é um atestado passado à porta do executivo. 

 

Usar um perfil pessoal para comunicar uma decisão institucional, com data tão vaga, sublinha que a saúde é tratada como um instrumento de marketing individual e não como prioridade coletiva.

 

É aqui que reside o sarcasmo mais amargo: a saúde foi tratada como um flyer de campanha — distribuído generosamente antes das eleições e atirado para o lixo logo a seguir.

 

Que reativem o serviço agora, não por uma questão de benevolência, mas por decência cívica e face à emergência sanitária, que se vive. Caso contrário, a próxima campanha deve ser feita à porta das urgências hospitalares, onde a população, febril e furiosa, saberá quem culpabilizar pela porta que se fechou na cara. 

 

A saúde é demasiado séria para ser apenas um boneco de marketing político com data de validade para 2026.

 

 

ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA

Opinião

Opinião

Serviços de Saúde de “urgência” em Paços de Ferreira

26/12/2025

Opinião

Gestão Autárquica e os novos desafios!

21/12/2025

Opinião

O desperdício alimentar e falta de natalidade em Portugal: o retrato de dois desafios e a exigência de uma reflexão

21/12/2025

Opinião

REAGRUPAMENTO FAMILIAR. COMO FAZER?

21/12/2025