03/10/2025, 0:00 h
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Opinião Opinião Politica Celina Pereira
OPINIÃO
Por Celina Pereira
Ao longo desta pré-campanha eleitoral, a nossa equipa, Unidos pelo Município de Paços de Ferreira, tem vindo a percorrer o concelho, palmilhado as suas ruas, conversado com os cidadãos e, sobretudo, ouvido as suas preocupações. O contacto direto com a realidade é, sem dúvida, a melhor forma de entender os desafios que enfrentamos. Mas, a par da esperança e da energia que encontramos em cada porta que se abre, deparamo-nos com um cenário que me enche de tristeza e, confesso, de uma profunda perplexidade.
Em cada bairro, em cada rua, vejo portas fechadas e janelas cegas. Lembro-me de ouvir os mais antigos dizerem que "uma casa vazia é uma casa triste", e nunca esta frase me fez tanto sentido. As fachadas de outrora, hoje pintadas de abandono, contrastam de forma brutal com o desespero de tantas famílias que procuram um lar digno. São casas inteiras, edifícios que poderiam ser lares felizes, mas que estão silenciosos, à espera de uma vida que tarda em chegar.
E neste cenário, há uma tristeza ainda mais profunda: o envelhecimento isolado. É doloroso ver que muitas vezes, ao lado de uma casa abandonada, habita um idoso isolado, sozinho, sem a companhia de que tanto precisa.
A realidade é clara e gritante: temos um número impressionante de casas devolutas e desabitadas, enquanto temos milhares de pessoas a viver em condições precárias, sem casa própria ou sequer com condições de pagar as rendas exorbitantes que se praticam. O que se passa, então? Como chegámos a este ponto de um desequilíbrio tão absurdo?
Não consigo compreender a lógica deste mercado imobiliário. Por um lado, veem-se casas em total degradação, esquecidas por anos. Por outro, os preços de venda e de arrendamento escalam a patamares inacessíveis para a maioria das famílias. É como se existisse um interesse deliberado em inflacionar o mercado, talvez para atrair investidores que veem na habitação não um direito fundamental, mas uma simples mercadoria para especulação.
Esta situação não é apenas um problema económico; é, acima de tudo, uma falha social e humana. O acesso à habitação é a base para a estabilidade de qualquer família. Sem um teto seguro, as pessoas não podem prosperar, as crianças não podem estudar com tranquilidade, e a coesão social é seriamente comprometida. É um paradoxo que nos confronta: uma família a precisar de uma casa e um idoso a precisar de companhia. O problema da habitação e o problema do isolamento podem, de facto, cruzar-se e encontrar uma solução mútua.
Precisamos de encontrar respostas urgentes para este paradoxo. O concelho, e o país, não pode continuar a aceitar que o direito à habitação seja negado a tantos, enquanto o património habitacional continua a degradar-se. É imperativo que se tomem medidas eficazes para dar vida a estas casas vazias, seja através de incentivos, de programas de recuperação ou de mecanismos que possam colocar estas habitações de novo no mercado, a preços justos e acessíveis.
A habitação é mais do que tijolos e cimento; é dignidade. E é por essa dignidade que devemos lutar, para que um dia, as nossas ruas se encham novamente de vida, e a tristeza das casas vazias se transforme na alegria de um lar para quem mais precisa.
A habitação é um direito constitucional, por vezes esquecido...
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