20/10/2024, 0:00 h
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OPINIÃO
Lembro-me, como se fosse hoje, das palavras do Sr. Prof. Arménio Assunção Pereira, Presidente da Câmara aquando do lançamento da 1ª edição do meu livro DELINQUÊNCIA, em 1989.
Disse ele, nessa altura, o seguinte: - “Escrever é um acto de coragem, porque quem escreve expõe e quem expõe, expõe-se…” Palavras bonitas que eu não me esqueci de agradecer, no final desse acto.
Escrevi o livro em pouco mais de 3 meses, profundamente revoltado. Explico porquê: em finais de “88” tive a ideia de realizar o “I ENCONTRO SOBRE SAÚDE MENTAL EM AMBIENTE PRISIONAL”. Seria no E.P. de Custoias, onde trabalhava, e constaria de 6 painéis, um de manhã e outro de tarde, durante três dias, com 4 especialistas na matéria por cada painel, a maioria psiquiatras. Ideia que me foi “roubada” pela D. G. S. P. para passarem eles por seus autores.
Uma cópia nunca é igual ao original. Assim, a “ideia” saiu completamente distorcida. Uma verdadeira aberração. Foi para constar que a ideia foi minha que decidi escrever o livro. Uma espécie de registo de patente, se quisermos…
Pois bem, fazendo minhas as palavras do Prof. retribuo, dizendo exactamente o mesmo: quem se expõe, expõe-se, isto é, tem que se sujeitar às críticas. Mas, passemos das palavras aos factos.
No dia 21/7/2024 foi ampliado o Parque Urbano de Seroa. Ampliação esta a que atribuíram o nome Prof. Arménio Assunção Pereira. Nesta parte do parque foi erigida uma estátua alusiva à pessoa homenageada.
Nesse dia, vindo de longa viagem, fiquei retido no aeroporto de Frankfurt, por cancelamento de voos, durante 2 noites. Só tive oportunidade de ver a estátua cerca de 10 dias após sua inauguração. Enquanto admirava essa verdadeira “obra de arte” veio-me ao pensamento palavras de 3 grandes poetas.
Primeiro, António Gedeão que num belíssimo poema intitulado LÁGRIMA DE PRETA, disse: “Olhei-a de um lado, /do outro e de frente:/tinha um ar…muito transparente”. Fiz o mesmo, em relação à estátua. Vi-a por todos os lados. Porém, não vi nela alusão a qualquer mecenato. (Mecenas, ilustre cavaleiro romano, nascido em Itália, 60 anos antes de Cristo serviu-se do seu prestígio junto do imperador para incentivar as letras e as artes.
A palavra Mecenas tornou-se, assim, sinónimo de protector das letras e das artes). Se o Prof. tivesse dito que foi quem custeou a sua estátua tornar-se-ia, deste modo, Mecenas de si próprio. Passe o ridículo da questão, mas não deixaria de ser um Mecenas.
Claro que mais ridículo seria se se apresentasse como protector das letras, uma vez que não sabe o significado da palavra “inaugurar”, ou confunde esta com “restaurar”! E também não sabe o significado da palavra “integrar”. Mas isto é outra história!
Os segundos poetas que me saltaram à mente, em simultâneo, foram: Vinícius de Morais e Chico Buarque da Holanda.
O primeiro destes poetas, por sinal um dos poetas brasileiros da minha preferência, escreveu OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO e o segundo cantou-o com palavras suas. E nessa canção ouve-se Chico dizer: “caiu em contramão, atrapalhando o trânsito…”.
Era aqui que eu queria chegar. Então, se esta estátua foi erigida ao “PAI DA CAPITAL DO MÓVEL”, conforme se pode ler numa lápide, do lado direito, não era suposto colocá-la, exactamente, em frente à sede desta capital, ou seja, em frente à Associação Empresarial de Paços de Ferreira, na freguesia de Carvalhosa?! Porquê Seroa?
Por outras palavras: que fez este Sr. por Seroa? Se tivesse feito alguma coisa, estariam lá mencionadas, as palavras “mecenas”, “benfeitor”, “benemérito” ou palavras semelhantes. Se não estão, é lógico, intuitivo e racional concluir que nada fez!
Por último, o nosso incontornável “Sr. Poeta”, Fernando Pessoa, que disse: “Sem a loucura que é o homem, / Mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que procria?
Vejo nesta estátua uma exaltação de si mesmo. Um culto à sua imagem. Enfim, um acto de loucura.
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