21/09/2020, 13:54 h
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Eleito recentemente para a presidência da Comissão Política Concelhia de Paços de Ferreira do PSD, Alexandre Costa desenvolve nesta entrevista as linhas mestras do seu programa. Questionado sobre a sua eventual candidatura à presidência da Câmara Municipal, contornou a questão e não respondeu.
Uma nova atitude em que consiste?
Falar desta nova atitude que eu e a minha comissão política se propõe a trazer para o centro do debate político concelhio, é irmos ao encontro dos anseios da nossa população. Hoje, as pessoas olham para a ação política com distanciamento, como sendo algo com uma conotação menos positiva. Mas, a política não é nem pode ser isso, pelo menos não é dessa forma que a encaro. A ação política, sobretudo a ação política autárquica é algo nobre, é algo em que as pessoas se envolvem desprendidas de qualquer interesse individual, para servir a comunidade. Olho para o serviço na política autárquica, como olho para o serviço que muitos dos nossos conterrâneos se prestam a fazer durante um período de tempo das suas vidas, ao leme das nossas associações por exemplo. Do PSD de hoje e de futuro, podem esperar uma atitude mais pró-ativa, um PSD que procura elevar o tom do debate político na nossa terra. Um PSD com um trajeto bem definido sobre a direção que o nosso concelho deve seguir, alimentando esse rumo com propostas e soluções para o nosso concelho. Estamos certos que o nosso concelho ganha com um PSD forte.
Relativamente às comissões políticas anteriores?
As anteriores comissões políticas do PSD tiveram um trabalho difícil, mas fizeram-no e estiveram sempre disponíveis para o debate político no nosso concelho. Aqui e ali poderiam ter sido feito algo diferente? Claro que sim. Mas merecem da minha parte o maior dos respeitos por terem assumido o leme do partido em momentos difíceis como o que ainda vivemos. E, certamente que o PSD também precisa de uma nova atitude e é isso que nos propomos a trazer ao partido. Um partido aberto à comunidade, com uma mensagem positiva, com ideias e a projetar diariamente um melhor futuro para cada um dos nossos concidadãos. O PSD de hoje, será um PSD virado para a nossa comunidade, para as nossas associações, para as nossas freguesias, para as pessoas essencialmente. O PSD é o mote para um concelho mais desenvolvido, atrativo, capaz e inovador, onde a melhoria da qualidade de vida da nossa população é o objetivo primordial.
Relativamente às outras formações políticas?
Tenho uma enorme crença no regime plural e democrático. Acredito que a visão e opinião de todos é fundamental para que obtenhamos uma comunidade melhor. Todos somos importantes e todas as forças políticas são fundamentais para a elevação e dignificação do debate político. Olho para a ação política pela positiva.
Nos últimos anos, temos discutido pouco as opções estratégicas do nosso concelho, estando encadeados pelas tricas políticas e quezilentas daquilo que está no cimo da discussão política do momento. Repare que nem o Partido Socialista, nestes últimos 7 anos que leva de governação, tem contribuído para este debate de ideias.
O PSD de hoje, será um PSD virado para a nossa comunidade, para as nossas associações, para as nossas freguesias, para as pessoas essencialmente
O Partido Socialista deixou de participar no debate político, centralizando a sua ação naquilo que são os rostos da governação da nossa Câmara Municipal. Hoje, os rostos da Comissão Política do Partido Socialista são diferentes dos rostos que governam a nossa autarquia, logo, estou certo que de futuro o Partido Socialista também poderá vir a ter um papel mais ativo neste debate de ideias, desprendido daquilo que acarreta o facto de estarem no poder da Câmara Municipal. É importante para o nosso concelho que todas as forças políticas comunguem desta nova atitude de estar e fazer política de um modo elevado e construtivo.
A anterior Comissão Política não “deu muito nas vistas”… Condicionada pela visibilidade pública dos vereadores ou/e deputados municipais?
Essa pergunta, conduzem-nos para o lema que trago para o PSD, uma nova atitude. E, nessa nova atitude, não existe lugar para essa necessidade de “dar nas vistas” deixando isso para outros que são mais hábeis a fazê-lo, pretendemos isso sim, que as pessoas nos reconheçam uma atitude pró-ativa, de ação, de compromisso, de envolvimento e que se revejam naquilo que é a mensagem do PSD para o concelho. Isso sim é importante.
Relativamente à visibilidade pública dos vereadores e deputados eleitos pelo PSD, não posso concordar que isso tenha sido uma condicionante, uma vez que a maioria dessas pessoas são elementos ativos na nossa sociedade, quer do ponto de vista do seu envolvimento profissional, social e político. Creio sim, é que estes últimos anos arrastaram o debate político no nosso concelho para níveis tão baixos, que até estas pessoas se sentem desmotivadas para desenvolverem o seu trabalho de outro modo.
Os Executivos, especialmente, os Presidentes de Câmara e de Junta de Freguesia, têm apagado a visibilidade e a ação das formações partidárias que os propuseram e suportam.
Com a “sua” Comissão Política vai se diferente? De que forma?
Penso que à pouco já lhe dei essa resposta. Nos tempos que correm, vemos em algumas pessoas muita sede de protagonismo, muita necessidade de estarem constantemente a aparecer, mesmo que por vezes não exista nada de novo, pensado e/ou estruturado para acrescentar. É a necessidade de aparecer por aparecer, na tentativa de arregimentar mais um sem número de gostos e/ou comentários nas redes sociais, por exemplo. E contra isso, pouco ou nada há a fazer, porque prende-se com as crenças e as liberdades individuais de cada um. Contudo, aqui cabe aos partidos políticos ocuparem esses espaços com presença no debate político, com elevação, propostas e ideias construtivas. Os partidos tem de ser capazes de apresentar, cooperar, e traçar linhas programáticas concretas para os destinos da nossa terra. Não podemos deixar essa responsabilidade em duas ou três pessoas que dirigem os destinos autárquicos.
Esta é a minha visão enquanto Presidente do PSD, como é a mesma visão que partilho enquanto autarca. O envolvimento das forças políticas é fundamental para que se concretize um melhor rumo para a nossa terra.
cabe aos partidos políticos ocuparem esses espaços com presença no debate político, com elevação, propostas e ideias construtivas
O PSD tem ganho eleições nacionais em Paços de Ferreira, ao mesmo tempo que perde as locais. O que lhe tem faltado? Quadros? Políticas? Projetos?
Ou a “pesada herança”?
O PSD é um partido de enorme responsabilidade no nosso concelho. As pessoas identificam-se com a matriz ideológica que, sobretudo, Francisco Sá Carneiro traçou para este nosso PPD/PSD. Ao longo do tempo as pessoas identificaram-se com a nossa liderança nos destinos do concelho que permitiram que os homens e mulheres ao leme do PSD na altura, infraestruturassem a nossa terra, tal e qual como a conhecemos hoje, sendo essa parte integrante da nossa herança e que ao longo dos tempos muitos tentaram apagar. Foram cometidos erros? Claro que sim, foram 37 anos de liderança do PSD no concelho e todos sabemos que quem decide tem sempre uma probabilidade de errar. Posso dizer-lhe que isso acontece-me todos os dias no âmbito profissional nas empresas que tenho e onde sou chamado a tomar decisões, e onde nem sempre essas decisões a breve prazo se refletem como tendo sido as melhores. Os decisores políticos são seres humanos e como tal, estão vulneráveis ao erro da sua decisão em determinado momento.
É claro e inequívoco que os pacenses nos últimos anos não se sentiram representados pelo nosso partido em termos concelhios.
De igual modo, os pacenses tem dado várias vitórias eleitorais ao PSD nas eleições nacionais que vão decorrendo, afirmando o nosso concelho como um dos grandes bastiões eleitorais do PSD no país. É claro e inequívoco que os pacenses nos últimos anos não se sentiram representados pelo nosso partido em termos concelhios. Não há como fugir a essa questão e os resultados eleitorais falam por si. Devo confessar aos leitores que sobre esta temática fiz uma profunda reflexão, quando assumi a candidatura à liderança do PSD e devo confessar-lhes que dessa reflexão extrai aquilo que deve ser esta nova forma do partido trabalhar e se apresentar perante a população. O PSD em Paços de Ferreira tem de mudar o seu modo de trabalhar e, acreditem, hoje lidero o PSD para que ele possa ser diferente e representativo da nossa população. Atrair novos quadros da sociedade, atrair e envolver cada vez mais pessoas neste projeto do PSD, mas sobretudo neste novo projeto de um concelho positivo, inovador e dinâmico. É isto que o PSD com esta nova atitude trará para o centro do debate político concelhio. Queremos voltar a merecer a confiança dos pacenses no dia-a-dia, envolvendo a sociedade num projeto único e agregador.
Queremos voltar a merecer a confiança dos pacenses no dia-a-dia
Exponhas as linhas fundamentais do seu programa
Fundamentalmente queremos reorganizar o partido, reforçando os seus quadros, sermos capazes de colocar à disposição do partido ferramentas formativas que permitam aos nossos elementos estarem melhor capacitados para analisar, debater e decidir. Queremos dar ferramentas para que possamos decidir de melhor forma um projeto mais capaz para o nosso concelho, que coloque no centro de todas as questões a melhoria da qualidade de vida de cada um dos nossos concidadãos.
Que apreciação faz dos dois mandatos de maioria socialista na Câmara municipal?
Os dois últimos mandatos tem uma coisa em comum, na medida em que chegaremos ao fim de cada um deles sem que olhemos para o nosso concelho e possamos ver que o concelho se afirmou nesta ou naquela questão e que existiu aqui um rumo claro e estruturante para o presente e futuro de Paços de Ferreira. Pura e simplesmente não existe um rumo na liderança do nosso concelho. Posso deixar aqui dois exemplos, tendo de ver um deles com o contexto económico de crescimento que vivemos nos últimos anos e onde não conseguimos afirmar a marca identitária que corre nas veias de cada um dos nossos concidadãos, não conseguimos afirmar a Capital do Móvel! Em vez disso, andou quem nos governa, às voltas com a Capital Europeia do Mobiliário, com a abertura de lojas em Espanha e afins, que não acrescentaram nada à dinamização empresarial e económica do nosso concelho. Não fortalecemos a nossa Associação Empresarial de Paços de Ferreira com as condições necessárias para reforçarem e galvanizarem a força que a nossa marca já traz de vários anos de trabalho. Outro exemplo que caracteriza a governação destes dois últimos mandatos, tem de ver com a grande bandeira que foi utilizada de sobremaneira para garantir a vitória eleitoral de 2013. A questão da água e saneamento em Paços de Ferreira já está resolvida? Recordo que passados três meses dessa vitória eleitoral, foi dito em Assembleia Municipal, que haviam resolvido mais em trinta minutos que o PSD em vários anos. Se essa resolução se prende com o facto de nos dias de hoje os nossos comerciantes terem de pagar mais de trinta euros pelo consumo dos seus espaços comerciais, sem utilização, como aconteceu nos recentes meses em que estiveram encerrados devido ao Covid19, desculpem-me mas não posso aceitar. Como disse anteriormente, quem decide comete erros e, certamente que nesta resolução alguém já cometeu erros. Sobre este balanço, também é importante não esquecermos as demissões do Sr. Presidente da Assembleia Municipal, Professor Ricardo Pereira, e do Vice-Presidente Dr. Paulo Sérgio Barbosa, que devem merecer da parte dos pacenses uma séria reflexão sobre o modo como tem corrido estes mandatos. Quando se fala em falta de confiança política, de entre pessoas que comungam dos mesmos ideais partidários, quanto muito as pessoas devem questionar e analisar.
O que teria feito de diferente? Concretize.
Muita coisa. Desde logo, não teríamos o projeto de um homem só, teríamos um projeto de envolvimento e partilha. É isso que teremos no futuro, quando os pacenses nos confiarem a missão de voltar a governar o nosso concelho. Perdemos oportunidades nos últimos anos de melhor preparar o nosso concelho. Teria existido uma aposta forte nas marcas identitárias da nossa terra, nos diversos sectores de atuação. Como exemplo, teríamos alavancado um projeto parceiro com a AEPF de dinamização, captação, modernização e crescimento da nossa marca Paços de Ferreira – Capital do Móvel. Hoje, a Citânia de Sanfins, o Mosteiro de Ferreira e até mesmo o Pilar em Penamaior, teriam uma dinamização cultural e turística que atrairia mais gente ao nosso concelho, que iria dar a ganhar aos nossos concidadãos. Na gestão da regeneração urbana do nosso concelho, teríamos uma postura diferente daquilo que acontece atualmente, chamando as pessoas a participar e a partilhar das suas ideias, o que não acontece por exemplo na regeneração do centro da Cidade de Freamunde. As pessoas têm de participar e ser consultadas, a cidade de Freamunde não pode estar a ser intervencionada sem que as pessoas sintam aquelas alterações como sendo suas, como sendo algo que corresponde aos seus anseios.
Teria existido uma aposta forte nas marcas identitárias da nossa terra, nos diversos sectores de atuação
Os freamundenses queriam que o seu centro urbano fosse alterado da forma como está a acontecer no momento? Não me parece e, existem dinâmicas locais, como acontece em Freamunde, que devem ser preservadas e ninguém melhor que os freamundenses para darem o seu contributo. Connosco os freamundenses seriam chamados a decidir. O envolvimento da comunidade seria algo do qual jamais teríamos abdicado. Não podemos andar a fazer hoje, amanhã desfazemos, e no dia seguinte voltamos a fazer de forma diferente. Teríamos também direcionado o nosso foco por criar um concelho jovem, dinâmico e atrativo, com capacidade de atração para os nossos jovens, nas diversas áreas de interesse que os fazem ficar cá, ao invés de procurarem novos territórios para se fixarem. Defendemos uma política de habitação e empregabilidade especialmente direcionada para os mais jovens.
Há muita coisa para fazer de diferente e que, humildemente, entendemos ser melhor do que o rumo que o nosso concelho tem seguido nos últimos anos. Mas como disse, queremos um projeto de envolvimento de toda a nossa comunidade e portanto, certamente que daqui por um ano o PSD irá ser capaz de apresentar um projeto autárquico em que a nossa população seja parte integrante e onde se reveja, não somente no PSD, mas sobretudo nas ideias que o PSD tem para o nosso concelho.
Como caracteriza o relacionamento institucional entre a Junta de Freguesia de Paços de Ferreira, a que preside, com a Câmara Municipal de maioria socialista?
O relacionamento existente é normal do ponto de vista institucional. Contudo, sou da opinião que as Juntas de Freguesia ao longo destes últimos anos perderam capacidade de intervenção. Como é sabido os orçamentos das Juntas de Freguesia são muito diminutos e, caso não existam por parte das Câmaras Municipais um projeto envolvente, com delegação de projetos, obras e/ou outras, as ações junto da população são muito diminutas por parte das Juntas de Freguesia.
Estar a dizer-lhe que sou ou não candidato é prematuro nesta fase.
Esta experiência dos últimos anos, faz-me perceber que as freguesias e o concelho teriam muito mais a ganhar se fossem descentralizadas algumas intervenções, pois garantiria uma maior agilidade, mais rapidez e um melhor conhecimento de muitas das preocupações e necessidades da população em determinado local. Neste momento, é difícil corresponder aos anseios da população localmente, porque não dispomos de ferramentas que nos permitam fazer um trabalho mais eficaz.
Vai ser o candidato do PSD à Presidência da Câmara Municipal nas próximas eleições autárquicas?
Estar a dizer-lhe que sou ou não candidato é prematuro nesta fase. Iremos concentrar-nos em fortalecer o PSD, em aproximar o partido da população, em envolver os nossos concidadãos num projeto pelo nosso concelho e, após essa fase, escolheremos os melhores para darem corpo a este projeto. Estou certo que teremos os melhores candidatos às nossas Juntas de Freguesia, à Assembleia Municipal e à Câmara Municipal. Porque acima do individuo e do partido, estará sempre o interesse do nosso concelho e das nossas gentes.
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