Por
Gazeta Paços de Ferreira

14/11/2020, 1:39 h

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SER CRIANÇA, JOVEM OU IDOSO EM TEMPO DE COVID 19

Educação

Hoje sinto necessidade de fazer uma reflexão mais pessoal sobre o tempo de pandemia. Quantas vezes tenho pensado nisto!

É certo que o futuro ninguém sabe…o próximo segundo já é futuro e o anterior é passado.

Trabalho com crianças, os meus filhos são jovens e os meus pais já se encontram na faixa etária da 3ª idade, embora não tanto como a minha avó que tem a bela idade de 92 anos.

As crianças

Vou começar pela análise dos meus pequenitos, as crianças. Convivo diariamente com miúdos entre os 3 e os 9-10 anos. Este ano leciono uma turma de 4º ano. Será o último ano que estão comigo. O 4º ano é sempre um ano nostálgico, em que a cada dia que passa se aproxima a separação dos miúdos, que partem para um novo edifício, para uma nova caminhada. É o ano em que cortamos o “cordão” daqueles que começaram a aventura da escrita e da leitura connosco. Eles sentem-se os grandes da escola, aqueles que orientam e ajudam os mais novos. Este ano não o podem fazer…há separação de grupos. Vivem o mais possível fechados na “bolinha” chamada turma. O que perdem as crianças mais novas com esta pandemia?

A infância, regra geral, é a fase em que a inocência, a alegria, a intimidade, são características tão marcantes que recordamos com nostalgia muitos anos depois.

Quantos abraços, beijos, momentos se estão a perder…e durante quanto tempo mais? Logo, logo as crianças serão jovens, os jovens serão adultos, os adultos eventualmente ainda serão adultos, mas os velhinhos já cá não estarão mais

Com uma pandemia a assolar-nos desde março de 2020, há cerca de 9 meses, quanto perderam estas crianças? Quanto mais tempo perderão da sua infância? E cá volto eu à questão da escola se manter ou não aberta. Seria possível manter as crianças em casa, longe da escola quanto tempo mais? Vou até falar dos miúdos mais velhos, os pré-adolescentes ou adolescentes. A idade própria também da descoberta, do estabelecer relações mais sentimentais, de descobrir o tanto que há para descobrir… Fechados em casa? Distantes dos seus pares, amigos, parceiros de sentimentos e confidências. Que marcas deixará a estes seres esta pandemia? Muitas marcas certamente, mas volto a referir: quão piores seriam se as escolas estivessem fechadas? Muito ou pouco, as escolas, além do conhecimento, são locais privilegiados de contactos socio-afetivos que fazem imensa falta às crianças e jovens. Escolas abertas permitem minimizar estragos, que não serão nulos obviamente.

Jovens

E quanto aos jovens, em idade mais avançada, já na casa dos 18-20 anos: será fácil ultrapassar esta pandemia sem marcas?

Sabem que me custa ver o atirar de tantas “pedras” à juventude, porque são uns inconsequentes, pouco responsáveis e afins… Mas, será fácil viver esta pandemia sendo jovens? Viver isolados dos amigos, numa idade em que a ânsia de viver é tão grande? Caramba, basta tentar parar um bocadinho e pensar: que sortudos fomos pois tivemos uma infância livre, despreocupada; uma juventude também livre e bem vivida, dentro do possível. Quantos de nós não sentimos nostalgia desses tempos, infância ou juventude…que saudades! Se pararmos e pensarmos um bocadinho, fomos uns sortudos por não termos perdido um ano ou dois dessas faixas etárias tão boas e que passam tão rápido!

A velhice

E agora vou àquela fase que me faz pensar bastante: a última, a velhice. Que raio de forma de terminar a vida! Quantos terminam a sua caminhada isolados de todos os que amam? Sem o carinho, o afeto que tanto deram? Um ano ou dois de pandemia é demasiado tempo para esta faixa etária!

Para terminar…quantos abraços, beijos, momentos se estão a perder…e durante quanto tempo mais? Logo, logo as crianças serão jovens, os jovens serão adultos, os adultos eventualmente ainda serão adultos, mas os velhinhos já cá não estarão mais…

Paremos e pensemos: cuidadosamente, evitando os perigos, mas sem extremismos, não podemos deixar que o tempo voe sem fazermos o que podemos fazer sem descurar os riscos; temos que arranjar forma de minimizar os estragos. É urgente que se consiga, de forma segura, viver sentimentos, partilhar afetos…viver!

Vamos ter fé e…reinventar-nos!

Rosário Rocha, Professora do AE de Frazão.

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