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Gazeta Paços de Ferreira

11/10/2025, 10:06 h

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Conviver com a mentira

Cultura Opinião Ricardo Neto

OPINIÃO

Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazi, adoraria viver nos dias de hoje. Disse ele um dia: “uma mentira contada muitas vezes torna-se uma verdade”, e foi assim que promoveu o racismo, nacionalismo, antissemitismo, anticomunismo, antigipsismo e a eugenia.

Por Ricardo Jorge Neto

 

Mas se Goebbles vivesse no tempo de hoje, este método resultaria de forma mais simples e rápida, porque não precisaria de contar a mentira muitas vezes, bastaria conta-la uma vez numa rede social, ou num espaço de comentário televisivo, e esta passaria a ser verdade. 

 

Nasci num tempo em que mentir era feio, e se o infractor fosse apanhado deveria repor a verdade e pedir desculpa, mas hoje quem mente, rapidamente é defendido pelos arautos da liberdade de expressão e da sem vergonha! 

 

Informações, fotos e vídeos falsos circulam lado a lado com a verdade, e são aceites e defendidos na mesma proporção. 

 

Mentir deixou de ser feio, e com Trump as sociedades aprenderam a adotar a mentira como uma realidade, e assim caminhamos para o surgimento de autocratas, que nascem viçosos neste substrato da mentira. 

 

A aceitação da mentira com o mesmo amor com que abraçamos a verdade fez-me lembrar uma história curiosa dum ditador africano, Jean-Bédel Bokassa. 

 

Bokassa foi um líder centro-africano, que reservou o seu nome no livro das figuras mais sinistras e cruéis, que alguma vez pisou o solo da Terra. 

 

 

 

 

Nascido na Républica Centro-Africana, quando esta ainda era uma colónia francesa, alistou-se no exército francês. E com o eclodir da guerra na Indochina, Bokassa foi para a região do atual Vietname, e enquanto soldado casou-se com uma vietnamita, e do enlace nasceu uma filha. 

 

Mais tarde foi mandado para outras paragens, e teve de deixar a sua esposa e filha, no Vietname. Anos depois, e desta vez na recém-independente República Centro-Africana, Bokassa planeou e executou um golpe de estado, depondo o primeiro presidente centro-africano, David Dacko, no ano de 1961. 

 

Uma das primeiras medidas do novo autocrata africano foi encontrar a sua filha vietnamita. Após alguns anos de procura, Bokassa recebeu a informação do governo vietnamita, que tinha encontrado a sua filha. 

 

Contudo, um jornal desmascarou esta filha, que era uma impostora, e descobriu a sua verdadeira filha, uma operária numa fábrica em Saigão, atual Ho Chi Minh. 

 

Ao saber desta notícia, Bokassa ordenou a prisão da falsa filha! O curioso desta história reside no próximo passo, Bokassa, o ditador sangrento, perdoou a filha impostora, libertou-a, e adotou-a em seguida, quando não seria de esperar tal benevolência.

 

As duas irmãs iriam casar-se no mesmo dia, e os seus esposos, iriam acabar mortos às mãos do sogro, o autoproclamado imperador, que viria a perder o poder, para o mesmo David Dacko, em 1979. 

 

Regressando à mentira, Bokassa ainda prendeu a falsa filha, mas no nosso tempo, após a descoberta da mentira, esta é de imediato adotada, e defendida como uma filha verdadeira, seja a palavra ‘porrada’, em vez morada, sejam ‘hamburgers’ em vez cidadãos, ou uma foto criada em IA com activistas de lagosta perneta na mão. 

 

Mas de pouco vale explicar que tudo isto é mentira, porque como diria José Afonso, noutro contexto, eles comem tudo, eles comem tudo!

 

 

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