26/06/2025, 9:46 h
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FREGUESIAS
Por Miguel Meireles
Cabe, aqui e a este propósito, evidenciar o poder de atração que a centralidade geográfica, viária e religiosa do lugar, exercia na fixação, trânsito e permanência dos residentes em geral. Outro tanto não se pode afirmar para o lugar de Rosende. Aí a produção agrícola absorvia e conformava, física, económica e socialmente, todo o lugar. Para além dos residentes que, de forma permanente e directa, nela intervinham, também outros, de fora e de forma assídua ou ocasional, por razões de trabalho ou comércio, se lhe ligavam e ao lugar. Advinham, em maior número, das Barreiras, Dobadoura e Cerdeiras, que lhe ficavam sobranceiros e eram os mais tipicamente residenciais.
Os residentes dos diferentes lugares estabeleciam entre si relações, mais ou menos intensas. Também as estabeleciam por razões de parentesco, de amizade e de interconhecimento que a proximidade favorecia. A interajuda expressava-se, de forma particular e de modos diversos, na execução dos trabalhos agrícolas, mas também e de forma menos convencional, em outras de natureza diferente. Condições de vida ou acontecimentos mais gravosos despertavam dinâmicas generalizadas de solidariedade.
As relações de complementaridade, que os residentes nos vários lugares, estabeleciam entre si, eram mediatizadas por uma forte identificação com o " seu " lugar. A forma extensa, na distribuição espacial das habitações, diversificava mesmo a intensidade convivencial, favorecendo a ocorrência de áreas mais restrictas de interconhecimento e entreajuda. Era o que, de forma mais marcante, acontecia nos lugares de Barreiras e Igreja. Tendo por base a vizinhança e, em muitos casos, o parentesco, a relação de identificação reforçava-se, quando, dentro dos limites do mesmo lugar, os residentes desenvolviam a sua actividade produtiva, se podiam abastecer de bens de consumo quotidiano e recorrer a serviços pessoais ou domésticos. Esta multifuncionalidade territorial intensifica va a interacção e originava dinâmicas colectivas, muitas vezes festivas, que consolidavam a coesão grupal e comunitária.
Neste reforço da convivência e das relações entre as famílias, desempenhavam papel de relevo as crianças, quando para jogos e recreação, trocavam entre si os respectivos espaços domésticos ou os espaços comuns mais próximos. Também as mulheres e mães de família contribuíam de forma particular, para a reprodução à escala do lugar, das relações de vizinhança e entreajuda. A guarda permanente dos filhos, a provisão em bens de consumo e a gestão a tempo inteiro do espaço doméstico exigia-lhes uma presença e circulação pelo lugar muito intensa. Eram, no grupo doméstico, as primeiras informadoras e os principais agentes reivindicativos das necessidades a satisfazer, das melhorias a introduzir e das reparações a efectuar. Em contraste, a presença mais esporádica dos homens diminuía a sua capacidade de conformação imediata do espaço. O comprometimento dos "chefes de família", a quem, formal e socialmente, competia a resolução dos problemas do lugar e a participação activa no processo decisório e executivo da sua resolução, era normalmente subsequente. Cumpria-lhes comunicar, discutir e urgir a intervenção das autoridades locais, quase sempre morosa, pontual e precária.
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