Por
Gazeta Paços de Ferreira

30/10/2022, 0:00 h

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INTELIGÊNCIA EMOCIONAL vs INTELIGÊNCIA RACIONAL (III)

Manuel Maia Opinião

A história que vos vou contar aconteceu comigo, mas de certeza que qualquer pai se revê nela.

 

“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos nossos olhos”. Sentença que se pode ler no livro “O Principezinho”, de Antoine Saint-Exupéry. Hoje abri, ao calhas, esse livro e dei de caras com esta frase. Ela vai servir de mote para explicar a necessidade que todos nós temos das Emoções, desde que devidamente controladas pelo intelecto ou Razão.

A história que vos vou contar aconteceu comigo, mas de certeza que qualquer pai se revê nela.

Um dos meus filhos foi, nos seus tempos de menino e moço, 18/20 anos, entre muitas outras coisas, “nadador/salvador”, na praia de Fontão, Lavra, Matosinhos.

Um dia, decidi ir ver o que faz um nadador/salvador. Como é que ele ocupa o tempo. Que trabalho desenvolve. Como é que ele resolve os problemas que se lhe deparam. Então, fui tomar uma “bica” na esplanada do café que o contratou. Não tirava os olhos dele. De repente vejo-o pegar na “boia se salvação” e correr ao longo da praia, na direcção norte/sul. Eu, aflito, não pensei duas vezes. Vou ao local da sua permanência. Agarro no torpedo (um “charuto”, enorme, de borracha, ou coisa parecida) e, sem hesitar, lá vou atrás dele, ou melhor, na direcção que ele havia tomado. Porque vê-lo… nem rasto! Os meus 60 anos aguentaram bem correr 50 metros, na areia, com o torpedo às costas. Os outros 50 metros percorri-os por conta do desespero. O sistema nervoso, melhor dizendo, a adrenalina encarrega-se de nos dar forças. Por via disso, já com a língua de fora, lá fiz mais 50 metros. Parei. Perguntei às pessoas se viram um nadador/salvador ter passado por ali, com uma boia. Que sim, que o viram a correr muito. E, sem que eu lhes perguntasse nada, acrescentaram que uma menina, de 3 ou 4 anos, andava perdida. Felizmente, uns metros mais adiante disseram-me que a catraia já tinha aparecido. Dei graças a Deus por tudo ter acabado bem. Porque só depois é que pensei: se eu me tivesse atirado ao mar, armado em nadador/salvador de um nadador/salvador, de certeza que não conseguiria dar três braçadas; para além de não saber o que fazer com o torpedo, uma vez que este exige muita experiência e técnica para nos equilibrarmos em cima dele. E a verdade, também, é que já não tinha fôlego para mais nada…. Faltavam-me pulmões.

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Tudo isto para frisar que o poder das emoções nos diz que os nossos sentimentos mais profundos são guias essenciais e que a vida humana deve uma grande parte da sua existência ao poder desses sentimentos. E mais: que esse poder é extraordinário: só um amor poderosíssimo, a necessidade de salvar um filho, pode levar um pai a dominar o impulso de sobrevivência pessoal, ou seja, da sua própria vida. Visto pelo lado do intelecto de quem me lê, poderá dizer-se que o meu sacrifício foi irracional; mas, visto com o coração, era a única escolha possível. Todas as emoções são, essencialmente, impulsos para agir, planos de instância para enfrentar a nossa vida e a daqueles que nos são mais queridos. Aliás, a própria palavra emoção deriva do latim “motere”, verbo que significa “mover para”, sugerindo que a tendência para agir está implícita em todas as emoções. A reflexão vem depois da acção. Esta só acontece entre adultos “civilizados”.

Conclusão: meu filho, em jeito de “agradecimento”, deu-me um grande raspanete, dizendo que eu havia cometido um grande crime, passível de ter de pagar pesada multa, por ter mexido em material da sua estrita responsabilidade e, com esta minha atitude, ter posto em risco a vida de outras pessoas, pois se aparecesse o “cabo do mar” ou algum “agente da marinha” e precisasse de utilizar esse material…não podia. Eis o que acontece quando a Emoção ultrapassa a razão!

 

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