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Gazeta Paços de Ferreira

08/06/2024, 19:26 h

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O mercado de escravos no séc. 15

Cultura Opinião Abílio Travessas

CULTURA

Agora que vem à espuma dos dias a questão, polémica, da indemnização dos povos colonizados, a devolução de obras d’arte e a escravatura, convém lembrar episódios dramáticos, não da Inquisição, mas do comércio de escravos.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

CULTURA

 

 

1444 - O leilão de escravos em Lagos e o Infante D. Henrique

 

 

Agora que vem à espuma dos dias a questão, polémica, da indemnização dos povos colonizados, a devolução de obras d’arte e a escravatura, convém lembrar episódios dramáticos, não da Inquisição, mas do comércio de escravos. Foram os portugueses, historicamente, dos maiores negreiros, comércio de humanos – homens, mulheres e crianças. Tudo começou (terá começado? leia-se Escravos em Portugal – das origens ao séc.XIX) em 1444, e chegou-nos no relato do cronista Gomes Eanes de Zurara na Crónica da conquista da Guiné. Capitollo XXV – como o autor aquy razoa huà pouco sobre a piedade que há daquelas gentes, e commo foe feita a partilha. Dada a dificuldade na tradução deste escrever português do séc 15 vou ao livro do historiador brasileiro Laurentino  Gomes, Escravidão, a história de um dos negócios mais rentáveis do mundo que foi também uma das maiores tragédias humanas, buscar a versão actualizada:

 

 

Qual seria o coração, por duro que pudesse ser, que não fosse pungido de piedoso sentimento vendo assim aquela campanha? Porque uns tinham as caras baixas e os rostos lavados de lágrimas; (…) outros estavam muito dolorosamente, olhando para os céus (…) bradando altamente como se pedissem socorro ao Pai da Natureza; outros feriam o rosto com aa suas palmas, lançando-se estendidos no chão; outros faziam as suas lamentações em cantos, segundo o costume de sua terra. (…) Pelo que convinha a necessidade de se apartarem os filhos dos pais; as mulheres, dos maridos; e os irmãos uns dos outros. A amigos nem parentes não se guardava nenhuma lei, somente cada um caía onde a sorte o levava. As mães apertavam os seus filhos nos braços e lançavam-se com eles de bruços, recebendo feridas com pouca piedade de suas carnes.

 

 

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Conclui Laurentino Gomes: Perante tanta dor e sofrimento, o piedoso coração de Azurara encontrava pelo menos um motivo de consolo. O cativeiro daqueles africanos, acreditava ele, era a oportunidade de salvar-lhes as almas, retirando-os da escuridão da barbárie e do paganismo … para introduzi-los na luz da religião cristã e da civilização portuguesa.

 

 

Segundo Zurara, o infante estava “ali em cima de um poderoso cavalo, acompanhado das suas gentes, repartindo as suas mercês, como homem que, de sua parte, queria fazer um pequeno tesouro”.

 

 

Continuando a seguir o historiador brasileiro: “Ao amanhecer de oito de Agosto de 1444, os moradores de Lagos, então um pequeno vilarejo murado na região do Algarve, foram despertados pela notícia de um acontecimento extraordinário. … meia dúzia de caravelas estavam ancoradas no cais.   Dos seus porões começou a sair uma carga inusitada: 235 homens, mulheres e crianças, todos escravos que ali seriam arrematados em leilão.”

 

 

“O primeiro lote, de 46 escravos, ficou reservado para o homem de chapéu de abas largas e botas de cano comprido até aos joelhos que, montado a cavalo, supervisionava toda a operação. Era o Infante D. Henrique …”

 

 

 

 

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