05/09/2025, 0:00 h
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OPINIÃO
Por Celina Pereira
Os incêndios florestais tornaram-se uma triste e previsível rotina de verão, alimentada por uma mistura explosiva de fatores climáticos e, sobretudo, de irresponsabilidade humana.
É incontornável a falta de civismo de muitos proprietários de terrenos que negligenciam a limpeza. A lei é clara: a gestão de combustível, através da criação de faixas de segurança, é uma obrigação legal. A ausência desta medida transforma o mato em autênticos barris de pólvora, prontos a explodir à mínima ignição. O resultado é o que temos visto: o fogo alastra com uma velocidade avassaladora, tornando o trabalho dos bombeiros quase impossível. As coimas, embora existam, são frequentemente ineficazes, ou não são aplicadas, e o ciclo de negligência continua, ano após ano.
No entanto, a responsabilidade não pode ser atribuída apenas aos cidadãos. A maior fatia da culpa recai sobre o próprio Estado. É um paradoxo moral que o governo exija o cumprimento da lei por parte dos cidadãos, quando ele próprio falha de forma catastrófica. Grande parte da área florestal do país é de gestão pública, e é precisamente aí que a falta de manutenção e de limpeza atinge proporções assustadoras. Os terrenos do Estado estão, em muitos casos, tão ou mais sujos do que os terrenos privados, servindo de ponto de partida e de propagação para muitos dos maiores incêndios que têm assolado o país.
Esta hipocrisia estatal é agravada pela inação. Durante décadas, ignorou-se a necessidade de uma política de ordenamento florestal séria e de investimento em prevenção. A consequência? Um país em constante alerta, onde os bombeiros, verdadeiros heróis, arriscam a vida todos os verões, ano após ano, para salvar as nossas casas e as nossas florestas. Os seus corpos e mentes mostram o cansaço acumulado. É o cansaço de uma batalha sem fim, contra um inimigo que é alimentado pela negligência. E, no final, são os cidadãos que pagam o preço mais alto. A morte de pessoas, a perda de casas, o desalojamento de famílias inteiras e a perda de todo um historial e esforço.
Os incêndios em Portugal não são apenas um problema do verão. São o sintoma de uma doença mais profunda, de uma falha coletiva na gestão do nosso território e de uma falta de respeito pela vida humana e pelo ambiente. Basta de tanta irresponsabilidade: O Estado assumir a sua responsabilidade e de os cidadãos cumprirem as suas obrigações.
A prevenção é a única solução e a limpeza é a chave para um futuro mais seguro. Se não formos capazes de inverter este ciclo de negligência, a tragédia continuará a repetir-se, com custos cada vez maiores e mais dolorosos.
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